quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Diálogos em sala de aula II



O estudo do eletromagnetismo envolve conceitos presentes tanto no estudo da eletrodinâmica quanto de magnetismo. Apesar de serem palavras e ideias abstratas, diversas aplicações foram desenvolvidas a partir do estudo desta área da Física. Por exemplo, existem diversos fenômenos quando uma corrente elétrica é estabelecida em um corpo (objeto). É sobre esses fenômenos o próximo episódio dos nossos diálogos.

Professor: “caros... hoje vamos fazer alguns experimentos para estudar o que ocorre quando uma corrente elétrica passa por um corpo.

Aluno: “...e vai ter um teste sobre isso depois?”

Professor: “vocês terão que me entregar um relatório do que fizermos hoje e esse relatório vai servir de roteiro para vocês estudarem para prova, já que a prova terá questões sobre isso.”

Aluno: “...e é pra entregar hoje? ...Vai valer quanto?”

Professor: “calma, vocês vão entregar hoje, mas depois eu vejo quantos pontos vai valer. Tudo vai depender da qualidade dos relatórios.”

Professor: “muito bem. Primeiro eu quero comentar com vocês os efeitos da corrente elétrica ao passar por um corpo. Vou escrever no quadro os efeitos da corrente elétrica e depois faremos os experimentos, certo?”

Alunos: “tá...”


Professor: “agora nós vamos fazer alguns experimentos para visualizar os efeitos da corrente elétrica sobre os corpos. Vamos começar vendo o efeito Joule e para fazer isso vamos utilizar salsichas, então preparem seu olhos, ouvidos e estômagos.”

Alunos: “ha ha ha....”

Professor: “muito bem. Observem o que eu tenho aqui: um plugue de tomada ligado a um fio, que então é conectado a dois garfos. Eu vou agora conectar esses garfos em uma salsicha e então ligar o plugue na tomada. O que vocês esperam que aconteça?”
Aluno: “a salsicha vai fritar!”

Professor: “por quê?”

Aluno: “por que o senhor tá dando choque nela, daí ela vai torrar...”

Professor: “mas por que isso ocorre?”

Aluno: “por causa do efeito Joule?”

Professor: “isso! O efeito Joule é o responsável. Quando os elétrons que compõem a corrente se chocam com os átomos constituintes da salsicha a energia que eles carregam é em grande parte convertida em energia térmica e a salsicha aquece. Observem só...”






Alunos: “legal... Que cheiro de cachorro quente....”

Professor: “agora, me deixe perguntar outra coisa para vocês. Se o efeito que desejamos é cozinhar a salsicha em que situação ela cozinharia mais rápido: ligando em uma tomada 110V ou em uma tomada 220V?”

Alunos: “220.”

Professor: “por quê?”

Alunos : “por que é mais forte!”

Professor: “quase isso. Nós vimos algumas coisas sobre circuitos. Se a resistência de um circuito é fixa e aumentamos a diferença de potencial o que ocorre com a corrente elétrica estabelecida nesse mesmo circuito?”

Aluno: “ela aumenta, porque a diferença de potencial e a corrente elétrica são proporcionais.”

Professor: “excelente! E como eu havia dito a corrente elétrica é o fator decisivo para aquecer a salsicha. Então, qual das duas tensões é a mais eficiente para ocasionar esse efeito: cozinhar as salsichas?”

Alunos: “220.”

Professor: “isso, pois a energia necessária será menor, visto que o tempo de cozimento será menos da metade que em 110V.”

Alunos: “hum...”

Professor: “agora vamos analisar em mais detalhes. Se temos 220V entre os dois extremos da salsicha e essa diferença de potencial é utilizada pelo circuito isso significa que cada pedaço da salsicha "gasta" parte desses 220V, certo?”

Aluno: “não entendi.”

Professor: “pense assim: se existe uma diferença de potencial de 220V entre as duas pontas da salsicha, até metade da salsicha existe uma diferença de potencial de 110V e na metade da metade (em um quarto dela) temos uma diferença de potencial de 55V e assim por diante. Logo, cada fatia da salsicha tem uma pequena diferença de potencial em relação a uma fatia ao lado.”

Aluno: “acho que agora eu entendi. Então duas fatias finas poderiam ter uma diferença de potencial de uns 2V, por exemplo?”

Professor: “exato! E pra ver isso eu tenho aqui alguns leds. Esses leds funcionam com uma diferença de potencial de 3V então se eu deixar eles com uma certa separação, entre os contatos, ao longo da salsicha, podemos acendê-los!”

Alunos: “sério?!”

Professor: “observem.”

Alunos: “que demais!”

Professor: “mas se eu não "pegar" duas fatias ou se as fatias forem muito próximas, não existe diferença de potencial ou ela é muito pequena para ligar os leds. Olhem só.”
Alunos: “legal!”

Professor: “outro efeito que a corrente elétrica pode ocasionar é o magnético. Olhem esse fio enrolado em torno do prego. Quando uma corrente elétrica é estabelecida através do fio ele passa a apresentar um campo magnético, ou seja, passa a se comportar como um ímã e pode atrair alguns clipes de metal.”

Aluno: “mas não seria mais fácil usar um ímã? O ímã seria até mais forte que isso aí.”

Professor: "mas um ímã pode ligar e desligar? Porque um eletroímã pode!"

Alunos: “não pode.”

Professor: “muito bem. Na próxima aula vamos fazer algo mais trabalhoso, então façam um relatório do que fizemos hoje para que tenham algo para ajudar nos estudos de amanhã.” 

Aluno: “e o que a gente vai fazer amanhã?” 

Professor: “vamos montar e explicar o funcionamento de um motor elétrico.”

Aluno: “vai valer nota?”

Professor: “mesmo que não valesse tu tens que entender o funcionamento do motor elétrico para as provas, outras avaliações ou só por curiosidade para saber como funciona um ventilador, por exemplo.”

Aluno: “ah... tá bom então...”
Elaborado por Alex Soares Vieira
Fim da 2ª parte





sexta-feira, 19 de outubro de 2012

As histórias sempre fascinaram o homem desde o início dos tempos. Representam um dos tesouros da humanidade. Hoje postamos mais um capítulo da grande história que é a Caravana RGE. Nossa oficineira Fernanda Walther nos mandou o texto abaixo. A história é sobre troca de conhecimento, empatia e amor a terra. Boa leitura!


Geração de Sementes


"Dona Maurecilda é uma senhora de uns 60 anos, diretora da Escola São Lourenço no Município de Coronel Pilar.
Eu, Fernanda, geração anos 80, Oficineira do Projeto, descobrindo que o tal meio ambiente é parte de mim e querendo mudar o caos mundial com ideias revolucionárias de um conceito chamado Permacultura.
Eu e Dona Maurecilda nos conhecemos no primeiro Seminário para Professores da Caravana RGE edição 2012/2013, em Bento Gonçalves/RS.
Dona Maurecilda é filha de agricultores da região e conta que até aos seus 18 anos não havia energia elétrica em casa. Ela e os irmãos acordavam cedo para a lida no campo e aproveitavam, com gratidão, a luz solar até o último minuto para os afazeres e brincadeiras. Ela diz que é por isso que passa boa parte do tempo apagando luzes na escola onde trabalha. Confessa orgulhosa, que desde que assumiu a direção da escola, a conta de luz reduziu em 40%. E eu? Que somente soube o que era viver sem energia elétrica quando um temporal fazia cair algum poste. Quando isso acontecia, lembro-me de pensar: já que não tem luz, vou ver televisão, já que não tem luz pra ligar a TV, vou escutar o rádio, ligar o microondas, ventilador, vídeo game... Só nesse momento lembrava que os aparelhos eletrônicos não funcionavam por si só, mas que precisavam de energia externa para suas funções serem realizadas.
Dona Maurecilda é uma mulher apaixonada por fazer pães caseiros no forno de barro e cultivar hortaliças no seu quintal. Sua produção de vegetais é tão abundante que ela e o marido não dão conta de consumir, por isso leva para escola e presenteia os professores com a sua riqueza verde. Entre tomates que pesam quase um quilo e variedades de morangas, ela me contou, em segredos, que cultiva e reproduz a mesma semente de chicória que sua bisavó cultivava, e que o buquê só pode ser pego “com um abraço largo”.
Eu, Fernanda, cresci sem plantar sementes na terra e vê-las desenvolver. Com 23 anos me apresentaram uma variedade de sementes e não pude distinguir nenhuma (nem a de tomate que comia tanto!). Resolvi pesquisar mais sobre o assunto e acabei percebendo que as sementes são as portadoras da vida, a esperança de prosperidade, alimento e entendimento ao mesmo tempo. Assim como nossas crianças, nossos anseios, nossos projetos e nós mesmos.
No final da Oficina, depois de muito aprendizado e troca de saberes com Dona  Maurecilda, concluímos as duas que falávamos sobre o mesmo tema com conceitos  diferentes.
É isso que eu compreendo que Permacultura é: uma ferramenta de reconexão com o ambiente e seu padrão sustentável de vida, com o intuito de trazer mais responsabilidade, troca, abundância, justiça, desenvolvimento e alegria ao nosso dia a dia.
Dona Maurecilda foi embora me agradecendo (e eu agradecendo a ela). Pegou meu endereço e prometeu enviar algumas de suas sementes por correio.
Eu, Fernanda, aguardo ansiosa a chegada da carta."


Fernanda Poletto Walther participa  dos Seminários Regionais de Educação do projeto Caravana RGE – Educando para a eficiência, ministrando a oficina “Ecologia e Padrões Energéticos no Ambiente Escolar – Compreendendo a energia das formas e fluxos energéticos no ambiente por meio da visão da Permacultura.”